Ética na Enfermagem - Humanização e deveres a serem seguidos pelo Professional Enfermeiro.
No caso dos DA,
ocorre um déficit no processo de ouvir, podendo ser classificados em surdos
totais e surdos parciais. Sendo o primeiro portador de ausência total de
audi-ção, e no segundo a audição possui um déficit, porém é funcional, com ou
sem prótese auditiva. (Ciccone apud PAGLIUCA; FIUZA e REBOUÇAS, 2007)
O DA total
estabelece uma comunicação insatisfatória com pessoas que não con-vivem no
dia-a-dia, pois muitas vezes, não possui acesso ao ensino especial, ficando
li-mitado a uma comunicação através de gestos que somente a família conhece o
significa-do. Além do mais, mesmo obtendo uma linguagem, nunca será completa.
Pois visto que a audição é essencial para a formação da linguagem e do
pensamento. Mesmo assim, o DA passa por mecanismos adaptativos, tentando se
comunicar de diversas formas, reali-zando gestos, desenhos, imitando,
escrevendo e, se caso obtiver um nível de treinamen-to avançado, realiza
leitura labial/orofacial. Por fim, se todas as tentativas de comunica-ção
falharem, pode ficar ansioso, irritado, impaciente, e se sentir incapaz.(ROSA;
BAR-BOSA e BACHION, 2000)
A fala não é o
único constituinte do poder da audição e da compreensão do outro, mas também as
expressões e manifestações corporais como fatores essenciais no ato da
comunicação. Porém, nas mais diversificadas culturas, os gestos são
compreendidos de variadas formas, sendo que o sorriso é considerado como o
único gesto universal. (Davis apud SILVA et al, 2000)
A criança surda
jamais deve deixar o contato com outras crianças que utilizam a fala para se
comunicar. O convívio com a linguagem oral deve ser constante, as horas que a
criança passa com a fonoaudióloga, e na escola são imprescindíveis, porém o
con-tato com os familiares é também fundamental para a formação da linguagem.
Os pais devem estimular diariamente seu filho, visto que isto aumenta seu
progresso em relação ao desenvolvimento da comunicação. (SILVA; KAUCHAKJE e
GESUELI, 2003)
Os ouvintes
utilizam a linguagem oral, já a usada pelos surdos geralmente é uma língua de
sinais, no caso dos surdos brasileiros é a Língua Brasileira de Sinais
(Libras). Essas duas línguas não são opostas, apenas utilizam métodos
diferentes para a transmis-são e recepção da comunicação. (Skliar apud
PAGLIUCA; FIUZA e REBOUÇAS, 2007). A Libras foi criada para que os gestos
realizados pelos surdos fossem unificados, facilitando assim a comunicação
extra familiar. Mesmo que cada país possua uma língua de sinais diferente,
existem alguns sinais que são semelhantes em diversos locais do mundo.
Ca-racteriza-se por possuir uma estrutura gramatical independente da língua
portuguesa, pois os surdos utilizam o corpo, principalmente as mãos, como forma
de comunicação não verbal. (PAGLIUCA; FIUZA e REBOUÇAS, 2007)
A criança que
nasce surda ou se torna surda em seus primeiros anos de vida, demonstra grande
dificuldade em aquisição de linguagem, que prejudicará em outras áreas.
(CHAVEIRO e BARBOSA, 2004,p.170). Além disso, o contato com a Libras é
essencial para a formação da personalidade do DA, em todos os aspectos
linguísticos, cognitivos e sociais.
Porém os surdos
no Brasil, principalmente aqueles que possuem condições finan-ceiras precárias,
vivem diversas dificuldades; um grande número não tem acesso a fono-audiólogo,
não tem acesso às comunidades de surdos organizadas, lugares onde a Libras
possa ser ensinada e utilizada. Com isto, grande parte das crianças DAs crescem
sem ter contato com a Libras, pois são raras as escolas e os centros de
terapias que utilizam esta língua. A criança cresce com sérias dificuldades de
interação social, escolarização, e depois que cresce, passa pelo desemprego,
pois geralmente esses DAs aprendem a se comunicar por mímicas, sinais não
sistematizados, que apenas os familiares entendem. (GOLDFELD,1997)
Em 24 de abril
de 2002, foi aprovado a Lei Federal nº10.436, onde a Libras – Lín-gua
Brasileira de Sinais se torna uma comunicação e expressão legalizada, esta lei
esta-belece em seu artigo 3º a implantação da Libras em instituições públicas
de saúde para assim fornecer atendimento e tratamento adequado aos surdos. E no
art. 4º as escolas e faculdades públicas, estaduais, federais, municipais e do
Distrito Federal, devem incluir nos cursos de Educação Especial,
Fonoaudiologia, e de Magistério o ensino da Libras, pois estes profissionais
futuramente entrarão com contato com deficientes auditivos. (BRASIL, 2002).
Com a evolução
tecnológica do mundo globalizado, exige-se cada dia mais profis-sionais
capacitados do ponto de vista tecnológico, cobrando qualidades e conhecimentos
para corresponder às quantidades de mudanças socioeconômicas da sociedade.
Neste contexto, vivemos em um mundo de poucas palavras, onde o valor da
sociedade é mais voltado para a imagem do que para a emoção. A cada dia que se
passa, percebemos o aumento do valor do bem material, e a redução do valor do
bem não palpável, como os sentimentos. (Keith apud ORIÁ; MORAES e VICTOR,2004)
Com isto, os
recursos das instituições de saúde parecem cada dia mais estar sen-do voltados
somente para a melhoria dos prédios, na compra de novos equipamentos, e outros
materiais, esquecendo-se da capacitação e da atualização dos profissionais que
podem mudar o modo de pensamento e de ação para que ocorra uma humanização da
assistência. Acarretando em profissionais desqualificados para diversas
funções, reali-zando assim um atendimento desumanizado. (BACKES; LUNARDI e
LUNARDI FILHO, 2006)
Esses mesmos
autores descrevem que a ética requer uma reflexão sobre os prin-cípios,
valores, direitos e deveres que direcionam a prática da enfermagem, indo além
de um simples tratamento da patologia, porque somente assim poderá ser
realizado um cuidado humanizado e integral.
De acordo com o
Código de Ética do Profissional Enfermeiro (CEPE), em seu artigo segundo, é
direito do enfermeiro “aprimorar seus conhecimentos técnicos, científicos e
culturais que dão sustentação a sua prática profissional.” E no artigo quinze,
o enfermei-ro tem o dever de ofertar uma assistência livre de preconceito de
qualquer natureza. (COFEN, 2009). Portanto, apoiado pelo CEPE e pela Lei
Federal 10.436, o profissional da enfermagem tem o direito e o dever de
realizar um curso de formação em Libras a fim de prestar uma assistência de
qualidade aos pacientes surdos.
O enfermeiro
deve adquirir conhecimentos e instruções para tornar o cuidado de enfermagem
mais humano, uma vez que, como agente transformador, o enfermeiro de amanhã,
não será o mesmo enfermeiro de hoje, pois a cada dia ocorrem diversas
vivên-cias que transformam as atitudes. (Timby apud ORIÁ; MORAES e VICTOR,2004)
A comunicação
estabelecida com o paciente é um dos mais valiosos aspectos do cuidado de
enfermagem dando subsídios para uma assistência eficiente. É através dela que
conseguimos criar vínculos com o usuário e a família, alem de fornecer um
atendi-mento mais humanístico, voltado especialmente para as mais diversas
necessidades de cada cliente. (ORIÁ; MORAES e VICTOR, 2004).
Em alguns casos,
são utilizadas maneiras antiquadas de comunicação dos profis-sionais de saúde
com os usuários surdos, salvo quando o mesmo está acompanhado de algum familiar
para servir de intérprete. (CARDOSO; RODRIGUES e BACHION, 2006)
Porém, se
analisarmos não é correto um familiar ser o intérprete do surdo, pois pode
acontecer do cliente se sentir envergonhado e não contar toda a verdade sobre
seu estado de saúde. Assim, o enfermeiro estará preocupado apenas com a
patologia e não saberá o que se passa “por detrás” daquela dor, não entenderá
as peculiaridades do su-jeito, deste modo não haverá uma interação adequada
entre enfermeiro-usuário e muito menos uma real inclusão. A prática da Libras
no ambiente de saúde é a real maneira de inclusão do surdo, pois somente assim
estaremos seguindo os princípios norteadores do SUS de equidade, integralidade
e universalidade, visto que sem a comunicação não há meios para se compreender,
criar vínculos, ver o ser nas mais diversas peculiaridades e dar acesso à
instituição de saúde.